quinta-feira, 4 de maio de 2023

A Relação entre Parasitas e Aranhas

Parasitas são organismos diversos espalhados pelo planeta, e apesar de parecerem cruéis, também são importantíssimos para o meio-ambiente. Eles atuam no controle de muitos artrópodes, geralmente entrando no corpo do hospedeiro através da água, de alimento infectado e diversas outras formas que falaremos a diante

E apesar de muitos não saberem que aranhas e outros artópodes também sofrem com parasitas, isto na verdade acontece a todo momento na natureza (e até no seu quintal), então hoje vou mostrar nesta postagem os principais parasitas que infectam ARANHAS.


PRINCIPAIS GRUPOS QUE INFECTAM ARANHAS


(A) Fungo araneopatogênico. Em alguns casos, características do hospedeiro podem ser identificadas post-mortem, como as espinhas abdominais neste Micrathena no Brasil. Foto de João Araújo. (B) Fungo Gibellula sp., emergente de um Lyssomanes viridis (Salticidae). Encontrado na parte inferior de uma folha em Gainesville, FL. Foto por Nick Keiser. (C) Larva de inseto ectoparasitóide aderida ao abdome de seu hospedeiro. Foto por Tone Killick. D) Ácaros parasitas ectoparasitas em uma aranha Salticidae juvenil. Foto de Weng Keong Liew. (E) O verme Mermítideo emergiu recentemente de um Olios (Sparassidae) em Belize. Foto de Thomas Shahan.

FUNGOS ARANEOPATOGÊNICOS

Os fungos araneopatogênicos são um dos fungos mais comuns e mais fáceis de ser identificados em aranhas, os principais fungos que infectam exclusivamente aranhas são dos gêneros Akanthomyces, Gibellula, Hevansia e Torubiella. Alguns fungos entomopatogênicos são conhecidos por infectarem aranhas também, como os Laboulbeniales que é uma ordem conhecida por serem parasitas obrigátorios de besouros, mas foram encontrados em aranhas-anãs (Linyphiidae). Há aproximadamente 86 espécies descritas de fungos araneopatogênicos de 16 gêneros de uma única ordem Hypocreales (Ascomycota).

Os quatro principais fungos citados acima fazem parte da família Cordycipitaceae infectando diversas aranhas no mundo todo, embora mais presentes nos trópicos.

Akanthomyces

O gênero Akanthomyces possui 10 espécies de fungos araneopatogênicos, sendo caracterizadas como um micélio branco e coloração amarelo-esbranquiçado com caules cobertos por estruturas portadoras de esporos orientados lateralmente. Espécies do gênero são vistas raramente infectando outros hospedeiros não aranhas, tendo sido encontradas parasitando mariposas.

Fungo da espécie A. aculeatus
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Gibellula

O gênero Gibellula é o parasita fúngico mais encontrado em aranhas por serem exclusivamente araneopatogênico, sendo distribuído globalmente, principalmente nos trópicos. Este fungo é caracterizado por caules grandes, geralmente com cores vivas.

Fungo da espécie G. arachnophila
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Hevansia

O gênero Hevansia também infecta exclusivamente aranhas e contém oito espécies. Este gênero foi separado do gênero Gibellula e é semelhante morfologicamente a Gibellula na sua forma sexual quanto a Akanthomyces em sua forma assexuada.

Fungo da espécie H. novoguineensis
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Torubiella

O gênero Torubiella é um grande gênero polifilético sexual em três famílias em Hypocreales. Morfos sexuais semelhantes a Torubiella estão associados a vários outros gêneros em Hypocreales (Akanthomyces, Gibellula, Hevansia, Lecanicillium, etc.) com 26 espécies araneopatogênicas aguardando revisão filogenética. Semelhanças morfológicas dos corpos frutíferos entre Torrubiella e Akanthomyces podem sugerir uma reclassificação que engloba Torrubiella em Akanthomyces. 

Fungo do gênero T. arachnophila
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BACTÉRIAS ARANEOPATOGÊNICAS

As bactérias araneopatogênicas ao contrário dos fungos, não podem penetrar através do tegumento do hospedeiro, sendo assim, elas apenas podem entrar através de orifícios como aberturas genitais, traqueia, cavidade oral, entre outros. Infelizmente, não há muitas descrições de infecções bacterianas em aranhas pois os sintomas não são aparentes, dificultando muito na identificação.

Os que mais interagem e observam aranhas, como pesquisadores (ou amadores) acabam descartando o cadáveres sem saber que as aranhas estavam infectados por bactérias, com a causa da morte permanecendo desconhecida. Em infecções, geralmente o sistema imunológico da aranha pode utilizar os hemócitos para eliminar a multiplicação bacteriana, mas em alguns casos, resulta em uma infecção sistêmica (sepse) fatal.

O gênero Pseudomonas contém muitos patógenos facultativos cosmopolitas e generalistas que têm sido usados em estudos experimentais com aranhas hospedeiras. Por exemplo, P. syringae, um patógeno generalista de muitas plantas e artrópodes, reduz a tolerância ao frio e a subsequente sobrevivência em aranhas domésticas comuns, Parasteatoda tepidorarium, após consumir presas infectadas. Aranhas-lobos (Schizocosa ocreata) foram infectadas experimentalmente com P. aeruginosa através da ingestão de água contaminada, após o que bactérias ativas foram recuperadas na hemolinfa por até cinco horas. Mais estudos são necessários para investigar em que circunstâncias a ingestão de bactérias através de itens de presa é interrompida por propriedades antibacterianas no veneno.

Alguns dos sintomas por infecção bacteriana em aranhas são: perda de peso, mudanças no comportamento e morte, quando estão em grandes quantidades. É improvável que a exposição a bactérias cuticulares isoladamente possa induzir essas alterações, mas nenhum desses estudos identificou a via pela qual as bactérias entram no corpo do hospedeiro após uma aplicação tópica. Em um experimento aplicaram um coquetel de bactérias cuticulares em órgãos sexuais de A. pennsylvanica e descobriram que as fêmeas que acasalaram com machos cujos pedipalpos foram expostos a bactérias experimentaram sobrevivência reduzida em comparação com as fêmeas que tiveram bactérias injetadas diretamente no epígino. Assim, o epígino pode não representar uma rota potencial para a aquisição de micróbios ambientais, mas a transferência de órgãos intromitentes masculinos (o êmbolo) merece mais estudos.


Bactéria araneopatogênica P. aeruginosa
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As bactérias Rickettsia são parasitas intracelulares obrigatórios e têm sido identificadas em várias espécies de aranhas. Assim como muitos outros artrópodes, as aranhas possuem uma série de bactérias endossimbióticas pertencentes a vários gêneros, incluindo ArsenophonusCardinium, Rhabdochlamydia, Rickettsia, RickettsielaSpiroplasma e Wolbachia.

Apesar de várias espécies de batérias serem prejudiciais às aranhas, Hamiltonella defensa atua na defesa das aranhas contra parasitoides.

VÍRUS ARANEOPATOGÊNICAS

Assim como as bactérias araneopatogênicas, os vírus também são poucos estudados. Pórem, estudos demonstraram que os vírus araneopatogênicos podem causar vários efeitos e modos de infecção sobre os hospedeiros. 

Em uma pesquisa, foram identificados vírus de RNA de fita simples de sentido negativo em cinco espécies de aranhas, sendo posteriormente detectado o vírus de RNA em todo o corpo, no cérebro, nas glândulas de veneno e glândulas de seda da aranha fio-de-ouro, Trichonephila clavipes.

Os Baculovírus (família Baculoviridae) são um grupo diverso de vírus de DNA que infectam diversos invertebrados e inclusive são usados como agentes de controle de insetos. Morel descreveu uma infecção fatal por baculovírus do hepatopâncreas em uma aranha-pescadora (ou aranha-creche, Pisaura mirabilis), mas não forneceu informações sobre patologia ou sintomas.

Vírus da família Baculovírus
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Em um experimento, uma aranha-lince (Oxyopes salticus) foi alimentada com lagartas da soja (Anticarsia gemmatalis) infectadas pelo vírus da poliedrose nuclear, outro Baculovírus. Posteriormente o vírus ativo foi coletado das fezes da aranha, fazendo os especialistas chegarem a conclusão de que aranhas-linces podem espalhar o vírus pelo ambiente. Além disso, outro ponto importante é que este estudo provou que o vírus ativo da poliedrose também pode atravessar o trato digestório de aranhas.

Os vírus da família Iridoviridae são vírus de DNA que infectam mais de 100 insetos. Em outro experimento tentaram infectar uma aranha-caçadora (Heteropoda venatoria) com Iridoviridae, mas a infecção não foi bem-sucedida. Pórem, o experimento incluiu apenas uma aranha jovem, não sabendo exatamente se aranhas também são hospedeiras desse vírus.

Vírus da família Iridoviridae
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NEMATOIDES ARANEOPARASITAS

Os nematoides da família Mermithidae são os principais parasitas conhecidos por infectarem artrópodes, tendo relação com aranhas a pelo menos 40 milhões de anos atrás.

Eles são semelhantes ecologicamente aos vermes-crina-de-cavalo (Nematomorpha) que infectam vários grupos de artropódes. As aranhas acabam se infectando pela ingestão de um hospedeiro paratênico infectado.

Nematódeo Mermítideo de Vespa velutina
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Foram identificados mermítideos (Aranimis giganteus) em estágio infectante em Ephemeroptera e em larvas de Trichoptera. É muito provável que presas aquáticas sirvam como hospedeiros paratênicos, já que a reprodução ocorre princincipalmente em água doce. Os mermitídeos se desenvolvem no hospedeiro aranha e emergem como jovens pós-parasitas no terceiro estágio. Eles também manipulam o comportamento do hospedeiro para garantir que que estejam próximos de água doce, local onde emergem e se reproduzem, sendo um dos sintomas: aumento da hidrotaxia. No momento em que  o hospedeiro (aranha) entra na água, o verme emerge através da cutícula, muitas vezes resultando na morte do hospedeiro.

Testes laboratoriais demonstram também que aranhas são suscetíveis á infecção por nematoides da ordem Rhabditida, tendo casos documentados de infecção por Panagrolaimidae em tarântulas (na natureza). Os nematoides Panagrolaimidae são tipicamente bacteriófagos habitantes do solo, sendo o solo a próvavel fonte da infecção. Entretanto, moscas da família Phoridae são vetores hipotéticos e possivelmente essas moscas sirvam como vetores tróficos para os nematoides (a aranha é infectada após se alimentar da mosca já parasitada); Pórem, os nematoides Panagrolaimida são foréticos em insetos, sabendo disso, há ainda a possibilidade das moscas serem usadas como transporte por esses nematoides para parasitarem aranhas pelo caminho.

Nematódeo Caenorhabditis elegans (Rhabditida: Rhabditidae)
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SINTOMAS

Em estágio avançado os sintomas de infecção por Mermithidae em aranhas podem incluir abdome inchado, pernas deformadas, má-formação do epígino, palpos e características sexuais secundária. Além disso, pode haver redução no tamanho dos órgãos e até castração.

Já os sintomas iniciais de infecção por Rhabditida em aranhas incluem anorexia e mobiidade reduzida, sendo uma infecção grave e muitas vezes fatal.

(Mais detalhes de sintomas na imagem final)

ÁCAROS ECTOPARASITAS

Talvez muitos não saibam, mas os ácaros, assim como as aranhas, também são aracnídeos; e além disso, são os mais diversos e abundantes entre eles. Por serem pequenos e de grande diversidade, a identificação deles pode se tornar difícil, e por esse motivo que há poucos relatos de ácaros em aranhas.

As relaçoes entre ácaros ectossimbióticos e aranhas são grandes e podem variar de comensais a parasitas, incluindo ácaros cleptoparasitas de aranhas encontradas em cavernas brasileiras. Foi publicado uma lista de ácaros parasitas e foréticos relatados em aranhas que incluiu 34 espécies de ácaros relatados em aranhas pertencentes a 16 famílias diferentes. E apesar de dos ácaros comensais não causarem danos diretos aos hospedeiros, quando em grandes quantidades, eles podem causar problemas de saúde por cobrirem todo o corpo da aranha, o que inclusive dificulta no movimento, respiração e uma série de outros fatores.

Aranha da família Lycosidae com ácaros
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Na Superordem Acariformes, muitos ácaros parasitas encontrados em aranhas pertencem a Subordem Parasitengona. Esses ácaros estão associados a vários artrópodes, e os que parasitam principalmente aranhas são membros das famílias Erythraeidae, Trombidiidae, Eutrombidiidae e Microtrombidiidae. Makol & Felska descrevem muitas das larvas documentadas do ácaro Parasitengone parasitas em aranhas, de acordo com sua última avaliação, 26 espécies nomeadas de ácaros Parasitengone foram registradas em 34 espécies de aranhas, representando 20 famílias.

Observações anteriores indicam que as larvas de Trombidiidae são mais comumente encontradas em aranhas do que larvas de Erythraeidae. As larvas procuram por hospedeiros, se fixam neles e alimentam-se de fluidos dos hospedeiro. Uma vez presa, a larva insere suas quelíceras no hospedeiro e se alimenta do líquido da ferida, após a inserção das quelíceras, as larvas secretam uma substância lítica das glândulas salivares. Essa substância lítica é responsável pela histólise (desruição) dos tecidos do hospedeiro. Após isso as larvas injetam outra secreção, que endurece em contato com a hemolinfa do hospedeiro para formar o estilostomo.

As larvas de Parasitengone permanecem aderidas ao seu hospedeiro por aproximadamente 1-2 semanas e muito dificílmente mudam de hospedeiro durante este período. Uma vez que se alimentaram o bastante, as larvas se desprendem do hospedeiro e buscam refúgio para se desenvolverem. Os ácaros Parasitengone são polinívoros ou predadores de microinvertebrados quando adultos.

É pouco conhecido em relação as defesas do hospedeiro contra larvas de Parasitengone. A melanização na ferida ocorre frequentemente, mas aparentemente não tem muito efeito sobre as larvas parasitas. Os efeitos fisiológicos de larvas de ácaros Parasitengone em relação as aranhas são desconhecidos. 
Em insetos, a sobrevivência e reprodução do hospedeiro são afetadas, mas há pontos importantes a destacar, como o tamanho do parasita e hospedeiro, assim como o número de ácaros por hospedeiro.

Também não se sabe se as larvas do ácaro tem a capacidade de transmitir agentes infecciosos para aranhas, mas há alguns relatos de larvas transmitindo bactérias Spiroplasma em bichos-paus (Phasmatodea). 

Juvara-Bals advertem os pesquisadores contra fazer distinções sobre a natureza parasitária dos ácaros com base simplesmente em sua presença nos corpos hospedeiros. Como por exemplo, Gromphadorholaelaps schaeferi, um ácaro comumente encontrado nos corpos de baratas sibilantes de Madagascar (Gromphadorina portentosa) foi posteriormente descrito como mutualista, pois não se alimenta do hospedeiro e limpa restos de alimentos velhos que poderiam causar uma infecção. Estudos futuros devem empregar experimentos de remoção para testar se a presença de ácaros tem algum impacto negativo detectável no desempenho das aranhas (como crescimento, condição corporal e comportamento)

Aranha da família Salticidae com ácaro
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Esquema com vias de infecção, patologia e sintomas.
Descrição esquemática das vias conhecidas de infecção, patologia e efeitos no comportamento dos principais grupos de aranhas parasitas. Essas informações não são detalhadas, pois provavelmente há muitas rotas de infecção, patologia e efeitos no comportamento que permanecem atualmente não testadas. 





Há ainda vespas parasitóides e protistas que falaremos na próxima edição..


Fontes:


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